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Capoeira e Espiritualidade

Capoeira e Espiritualidade

Meu nome é Mário Chaísse, mas nos círculos de capoeira sou conhecido como Mavó. A capoeira é uma mistura afro-brasileira de arte marcial, acrobacia, dança e espiritualidade, acompanhada de música. Se você chegar à minha região e procurar por Mário, provavelmente não me encontrará. Mas, se perguntar por Mavó, todos saberão indicar onde estou. Porém, por trás dos golpes complexos, existe uma jornada de fé que me levou de um lar católico tradicional ao encontro transformador com o evangelho. Houve uma ligação entre capoeira e espiritualidade.

Quem é Mavó?

Minha família sempre foi católica. Meu pai era catequista na Igreja Católica. Minha mãe era tão devota que chegou a ingressar no convento antes de conhecer meu pai. Após algum tempo de formação, ela e meu pai se conheceram e ele conquistou seu coração. Assim, minha mãe sentiu-se obrigada a conversar com as freiras, que decidiram patrocinar o casamento dela com meu pai. Foi assim que meus dois irmãos e eu nascemos; sou o filho do meio.

Infância Católica e o Medo de Ser “Muhedeni”

Crescemos dentro da igreja, estudando o catecismo — não porque entendêssemos seu significado, mas porque meus pais nos faziam participar. Na região em que vivi havia um ditado muito comum: “Quem não vai à igreja será muhedeni” — alguém sem Deus, sem religião ou valores religiosos. Pelo constrangimento associado a essa palavra, meus irmãos e eu fazíamos de tudo para nunca faltar à igreja. Não queríamos ser muhedenis.

Capoeira e espiritualidade: Amizade que Transforma

Em 2014 conheci um jovem chamado Fernando, católico muito fervoroso. Ele queria aprender capoeira comigo, pois eu era considerado um dos melhores mestres. Fernando tornou-se meu novo discípulo e, tão empolgado que estava, começamos os treinos já naquela semana.

Durante os treinos, percebi que Fernando era muito dedicado e falante, destacando-se não apenas como discípulo, mas como amigo. Nossa amizade cresceu ao longo dos dois anos seguintes (2014-2015).

No início de 2016, Fernando mudou-se para outra cidade para estudar.

Uma Bíblia, Novas Perguntas e a Mudança de Fé

Nessa época, comecei a ler um livro fascinante sobre adoração e, com o tempo, minhas convicções começaram a mudar. Houve domingos em que já não ia mais à igreja, até que encontrei um exemplar do Novo Testamento. Passei a ler as histórias de Jesus e a aprender mais sobre Ele. Assim, Deus começou a mostrar-me a luz da verdade. Quando voltava à Igreja Católica, deparava-me com práticas que agora entendia não pertencerem ao verdadeiro culto a Deus — como, por exemplo, o uso de estátuas.

Então começou meu dilema: por que adoramos estátuas? À medida que a convicção crescia de que essa prática era idolatria, ser chamado de muhedeni já não me afetava como antes.

A transformação de Fernando me transformou, mas e minhas raízes?

Em 2017, Fernando voltou à cidade com novas convicções sobre religião e sobre a capoeira como arte. Em vez de treinar comigo para aprender golpes de luta, ele apareceu apenas para praticar como esporte. Essa mudança despertou minha curiosidade.

Mais tarde, conversando com Fernando, ele compartilhou informações sobre o catolicismo que não me agradaram. Éramos amigos íntimos; como ele podia dizer aquelas coisas?

A partir daí tivemos várias conversas sobre a Bíblia e a verdade. Pouco a pouco, Fernando contou-me sua experiência ao descobrir a verdade, como ficou impressionado com o modo como sua nova religião, o adventismo, pregava e ensinava, e como isso transformou sua vida.

Tudo isso aguçou minha curiosidade sobre esses adventistas, mas eu não queria abandonar a Igreja Católica — afinal, era a igreja da minha família. Mesmo assim, nossas conversas continuaram. Tudo o que Fernando dizia coincidia com o que eu descobrira no Novo Testamento. Meu desejo de deixar o catolicismo só aumentava.

Eu ainda frequentava as aulas de catecismo para receber o crisma. Nesse mesmo período, Fernando convidou-me para ir à igreja dele.

Capoeira e espiritualidade: Outsiders

Quando chegou o sábado, fui com ele. Foi um dos dias mais memoráveis da minha vida. O que mais me impressionou foi ver um grupo masculino de jovens cantores chamado “Outsiders”. O cântico deles parecia celestial, e eu me perguntava: Como rapazes tão jovens conseguem isso? Então percebi que alguns deles tinham sido meus alunos. Foi surpreendente e me motivou a voltar.

Depois de algum tempo, contei à minha mãe que queria mudar de igreja. Ela pensou que eu me referia a trocar de comunidade católica e disse que tudo bem.

Conflito Familiar

Certo dia, voltando para casa animado, avisei que queria mudar de religião e pertencer a uma igreja que ora aos sábados. Ela não gostou nada. Disse que essa igreja não prestava e que, sempre que batizavam alguém, levavam a pessoa para a África do Sul para entregar a alma dos pais dela. Minha mãe perguntou: “Você realmente quer entregar a minha alma a essa igreja?”

Fiquei abatido. Eu ainda sabia pouco sobre a igreja para rebater sua afirmação, mas, no fundo, sentia que minha mãe estava enganada. Voltei no sábado seguinte e, dessa vez, fiquei o dia todo. Então voltei para casa convicto sobre o sábado e de que minha mãe falava de outra igreja, não da igreja adventista.

A convivência com minha mãe tornou-se um inferno, em parte porque comecei a fazer muitas mudanças pessoais quanto ao sábado, à alimentação e a outras questões.

No início, passei a desprezá-la, pois me via como guardião da verdade e não gostava quando ela falava comigo indignada. Sempre respondia com arrogância. Mas, ao continuar a aprender com os adventistas — inclusive sobre viver com graça e respeitar o direito alheio de crer diferente —, comecei a mudar meu comportamento. Minha mãe percebeu essas mudanças e a paz voltou ao nosso lar.

Ele se tornou meu amigo e eu Seu discípulo

Hoje agradeço a Deus por ter enviado Fernando à minha vida. Pois se Deus não tivesse guiado tudo desde o começo, eu jamais teria me tornado adventista. Ele me levou a conhecer alguém que se tornou meu discípulo de capoeira, depois um grande amigo e, então, um adventista. Por meio dele, conheci Jesus, que se tornou meu Amigo, e eu, Seu discípulo.

Fernando tornou-se um dos obreiros bíblicos em nosso Projeto Tonga, em Moçambique. Ele deseja cursar teologia na faculdade no próximo ano.

Geovan e Dani Machú são missionários de carreira no Projeto Tonga desde abril de 2023.

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