Hoje vou contar pra vocês sobre a minha primeira vez subindo uma montanha. Foi uma grande escalada! Estou há alguns meses morando em Kamantian, um vilarejo no meio das montanhas Palawanas, aqui nas Filipinas. Muito me surpreende estar aqui, e ainda me pego no meio do caminho para o trabalho pensando na minha localização.
O dia da grande escalada
O dia de subir a montanha tinha chegado. Comprei alimentos no dia anterior para levar, e mal sabia o caminho que me esperava. Acordei bem cedo, escolhi a roupa da escalada, orei e esperei virem me buscar para o local de partida.
Me disseram no dia anterior que quatro pessoas iriam descer para ajudar a levar minhas coisas. Dividi tudo em quatro sacos, roupas, comida para as próximas semanas dentre outras coisas. Indo para o local de partida, observava de longe as lindas montanhas, mas não esperava que teria que atravessá-las caminhando.
Pronta para subir
Começamos a jornada, Anis, uma nativa com a qual fiz amizade, muito querida, três meninos e eu. Os meninos tinham em torno de 16 e 18 anos, e já pensei como iriam carregar minhas coisas. Mal sabia eu das capacidades do povo da montanha. Era por volta das 8h30 da manhã, começamos a subir e na primeira hora meu corpo já reclamava. Eu segui incrédula, com os meninos carregando cerca de vinte quilos nas costas cada um.
Não sei se você já teve a experiência de subir um monte, ou algo que exigisse muito do seu corpo. É uma guerra que seu corpo começa a travar consigo mesmo, sua mente quer subir e o corpo quer convencê-la a parar. Então meu primeiro objetivo era não deixar meu corpo escolher, minha mente tinha que vencer. Numa hora assim, você mesmo tem que se convencer a continuar, escolher dar o próximo passo, mesmo que o seu corpo esteja gritando que não consegue mais.
Duas horas depois…
Eu já me encontrava muito cansada depois de duas horas subindo, não estava nem na metade do caminho. Foi nesse momento que comecei a pensar na história de Moises e as vezes que ele subiu em um monte para falar e estar com Deus (Êxodo 19:3; 24:15-18; 34:2-4). Ele já era um senhor de idade, e imagino os anjos o seu redor ajudando o velho Moisés a cada momento. Foi aquilo que desejei com todas forças, e foi isso que me ajudava a prosseguir.
Havia então chegado ao momento mais difícil da trilha, eu olhava pra traz e via o horizonte. Ao longe conseguia ver os pastos, colinas, e o lindo oceano azul e a frente uma subida que não parecia ter fim. Meu corpo não dispunha de mais força. Então parei, orei, mas nada milagroso aconteceu. Porém, senti-me mais convicta de que deveria continuar.
O presente da ignorância
Além de íngreme, a trilha era escorregadia e muitas vezes perigosa, pois ao lado do pequeno espaço de passar havia um grande desfiladeiro. Foi quando eu parei de olhar pra cima, procurando um fim para a subida. Olhava só até os próximos dois passos, pois cada vez que andava, subia e subia, olhava e não via fim. Meu instinto era não querer continuar, mas ao olhar só o que se encontrava a minha frente era mais fácil prosseguir.
Muitas vezes Deus apenas nos deixa ver o que está a nossa frente. O presente, um dia por vez, um passo por vez. Pois se tivéssemos o poder de ver o futuro, provavelmente, isso nos paralisaria. “Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês’, diz o Senhor, ‘planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro” (Jr. 29:11).
Outras promessas são encontradas ao longo da Bíblia, Isaias 41:10; Romanos 8:18; Efésios 3:20-21.
Finalmente, o topo! E uma nova grande escalada…
Esse pensamento veio diversas vezes em minha mente. Fui subindo um passo por vez, o calor era abafador, o cansaço extremo, e depois de cerca de cinco horas chegamos ao topo. A vista era estonteante, a brisa tranquilizadora, meu corpo havia superado limites que ele nunca havia conhecido nem imaginado. Então agradeci a Deus, por ter estado comigo, eu senti sua proteção e companhia. Pensei o quanto queria contar aquilo para meu querido pai, e como eu havia conseguido algo que não imaginava.
Depois de passar por tanta fadiga, dor, cansaço devastador, e enfim chegar ao topo, o surpreendente acontece, pois depois de uns vinte minutos começasse a esquecer todo sofrimento. Eu estava ali no topo, em um país que nunca imaginara, fazendo algo que me desafiou em todas as instâncias, ali começava uma nova etapa, meu ano em Kamantian. Avistei a vila, uma nova jornada se iniciava, um tipo diferente de escalada…
Noemia Muniz é missionária de curto prazo no Projeto Palawan desde março de 2024.