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Família ao redor da mesa compartilhando uma refeição durante o Ramadã.

Ramadã

O que é o Ramadã?

Eu cheguei no meu novo lar, em pleno Ramadã. O Ramadã (ou Ramadan) é o nono mês do calendário islâmico, é um período sagrado para aproximadamente 1,9 bilhão de muçulmanos em todo o mundo. O início e o fim do Ramadã variam todos os anos, pois o calendário islâmico segue o ciclo lunar. Sendo assim, o mês começa com a observação da Lua Nova. O jejum (Sawm) vai desde o amanhecer, até o pôr do sol, acompanhado de momentos de oração, reflexão espiritual e união familiar. Ou seja, eles buscam uma maior conexão com Deus, intensificando as orações e a leitura do Alcorão, em comunidade.

Os cinco pilares do Islã

Sou uma brasileira e vivi minha vida inteira numa sociedade cristã. Então ser missionária em um país completamente muçulmano me trouxe muita curiosidade. Quero entender melhor essas pessoas, então comecei a pesquisar e descobri que o quarto dos cinco pilares do Islã é o jejum praticado durante o Ramadã (Sawm), o primeiro é a profissão de fé (Shahada), seguido das orações diárias (Salah), o terceiro é a caridade (Zakat) e o quinto é a peregrinação a Meca (Hajj). Como resultado, esses pilares do Islã definem a identidade dos muçulmanos – sua fé, crenças e práticas, dando a essa comunidade de crentes o senso de unidade e comunhão de valores.

O Jejum e as Refeições Típicas do Ramadã

O jejum aqui é bem diferente do que costumava ver e fazer no Brasil. Durante o mês sagrado, os muçulmanos jejuam do amanhecer ao pôr do sol, abstendo-se não apenas de comida e bebida, mas também de práticas que possam distrair da vida espiritual. Embora se trate de um mês de jejum, existe uma grande expectativa em torno das refeições especiais feitas diariamente.

  • Iftar: a refeição para quebrar o jejum ao pôr do sol, geralmente ocorre após a oração do Maghrib, que é a quarta das cinco orações diárias do Islã. Essa oração marca o fim do dia e a transição para a noite.
  • Suhoor: a última refeição antes do amanhecer, que ajuda a manter a energia durante o dia de jejum.
  • Algumas famílias também fazem uma pequena ceia no meio da noite.

Exceções ao Jejum

Crianças, gestantes, mulheres em período menstrual e idosos ou pessoas com condições de saúde que impeçam o jejum são isentos. Ainda assim, eles incentivam até mesmo quem não jejua a respeitar o período, evitando comer em público.

Minha Experiência Pessoal durante o Ramadã

Eu fiquei hospedada na casa de uma família local muito acolhedora. Apesar de estarem jejuando, faziam questão de me oferecer um café da manhã e preparavam uma marmita para que eu almoçasse na escola.

E é claro que alimentos tradicionais do iftar não faltavam a mesa. Como diferentes salgados, doces, sopa, pão, chá e suco, criando um clima de união e celebração. Esses alimentos, típicos desse período, não costumam ser consumidos com tanta frequência fora do mês sagrado islâmico.

Tradições e Festividades

Eid al-Fitr marca o fim do Ramadã. É uma festividade em que as famílias se reúnem, vestem roupas especiais, trocam presentes e celebram com muita comida. Nesse ano aconteceu entre os dias 30 e 31 de março. Em minha nova casa as mulheres aplicaram até Henna nas mãos, uma tradição que pode variar de acordo com a cultura local.

Origem do Ramadan

Segundo a tradição islâmica, o Ramadã é o mês em que o Alcorão foi revelado ao profeta Muhammad (Maomé). Essa revelação teria começado na Noite do Destino (Laylat al-Qadr), a noite mais sagrada do ano para os muçulmanos. Historicamente, o jejum já existia em outras tradições religiosas, mas foi instituído como um dos pilares do Islã cerca de dois anos após a migração de Muhammad de Meca para Medina (por volta de 624 d.C.).

Apesar das diferenças

Embora cristãos e muçulmanos tenham pontos doutrinários distintos, há valores compartilhados: a importância da oração, da caridade, da busca por uma vida íntegra e da esperança na intervenção divina. A experiência de ver como o Ramadã fortalece laços familiares e comunitários mostra que a fé praticada em conjunto possui um impacto muito poderoso. Percebi mais claramente que a missão, nesse contexto, deve ser vivida mais por meio de relacionamentos autênticos do que por discursos formais. Então, isso me fez pensar:
O meu compromisso com a fé em Cristo, e as minhas atitudes diárias, transmitem a mesma intensidade e coerência? Como está a sua relação com a fé que você professa?

Eloise Castro* é missionário de curto prazo no Projeto Maghreb desde março de 2025.

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