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Como testemunhar sem falar a língua?

Recebi meu chamado missionário para a janela 10/40 ainda na adolescência. No entanto, foi apenas em 2025 que consegui, de fato, chegar ao campo. Desde então, sirvo como missionária no Projeto Maghreb, um projeto fechado, em um contexto de maioria muçulmana, onde meu principal trabalho é construir amizades profundas e encontrar formas de compartilhar o amor de Jesus com sensibilidade e sabedoria cultural. Mas como testemunhar sem falar a língua?

Começo desafiador: sem inglês, sem a língua local

Ir para o campo missionário já é um grande desafio. Porém, quando você não fala nem inglês, nem a língua local, tudo se torna ainda mais difícil. Foi nesse cenário que vivi uma das experiências mais marcantes da minha vida.

Cheguei durante o mês do Ramadã, um período sagrado para os muçulmanos. Como parte do processo de imersão cultural, fui convidada a morar com uma família local. Entretanto, havia uma barreira gigantesca entre nós: a linguagem. Eles falavam apenas um dialeto árabe que eu não conhecia. Diante disso, meu coração se encheu de perguntas: “Senhor, como vou me conectar com essa família? E, principalmente, como posso testemunhar sobre Ti se não consigo nem conversar com eles? Como testemunhar sem falar a língua?”

Um testemunho silencioso, vivido no dia a dia

Durante aquele mês, decidi me dedicar intensamente ao aprendizado da língua. De manhã, frequentava a escola para estudar o idioma; à tarde, voltava para casa e ajudava a preparar o Iftar, a refeição que quebra o jejum diário do Ramadã. Nesse meio-tempo, ali na cozinha, lavando arroz, cortando legumes e aprendendo receitas típicas, nascia algo especial: um vínculo real.

Apesar da dificuldade de comunicação, minha presença dizia algo. Ao mesmo tempo, meu esforço para aprender a língua e participar da rotina mostrava respeito, carinho e disposição para amar — mesmo sem palavras. Assim, percebi depois, essa é uma linguagem universal.

A resposta inesperada à oração

Então, uma semana antes da minha partida, durante o jantar do Iftar, algo surpreendente aconteceu. A filha da dona da casa, com lágrimas nos olhos, me disse:

“Sabe, Elô? Nós já recebemos muitas pessoas aqui em casa, mas nunca nos importamos com elas. Você é diferente. É parte da família. Minha mãe diz que você é como uma filha para ela. Ela se preocupa com você e queria que morasse conosco.”

Naquele momento, todas choramos. Desse modo, entendi: essa era a resposta da minha oração. Eu havia pedido a Deus uma forma de testemunhar sobre Jesus mesmo sem poder falar abertamente d’Ele. Consequentemente, Ele respondeu, através da minha vida, do meu caráter e do amor vivido no cotidiano.

Ainda somos uma família

Hoje, embora eu more em outro lugar, continuo visitando minha “família local”. Além disso, cada encontro é mais uma oportunidade para continuar mostrando, com atitudes, quem é Jesus. Ele é amor, Ele é cuidado, Ele é presença. Por fim, é isso que desejo continuar compartilhando com elas, só que agora com palavras.

Eloise Castro* é missionária de curto prazo no Projeto Maghreb desde março de 2025.

* Nome fictício por questões de segurança.

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